Friday, July 25, 2008

2) A Procura duma Teoria

Em 1971, bem antes de voltar aos EUA depois de três anos no Brasil, fiquei pensando que foi possível analisar toda a repressão política da ditadura militar como a supressão de informação. Ao mesmo tempo, conclui que a liberdade de informação podia servir no lado da liberação política, quer dizer, que a informação podia ser um conceito revolucionário. Logo depois de ficar morando em New York nos fins de 1971, descobri a existência da teoria de informação de Claude Shannon e seu conceito de informação como entropia negativa. Contemplei as possibilidades duma teoria política usando este conceito e comecei usar tecnologias de informação com amigos da esquerda (Sony Porta Pak vídeo e televisão de cabo). (Ao mesmo período, fiquei conhecendo uns brasileiros na comunidade em exílio).

Entrei no programa mestral de estudos latino-americanos a Stanford University em 1974 com a idéia de escrever um livro sobre a ditadura brasileira aplicando a teoria da informação. Nunca consegui completar o livro, mas aqui e um papel não publicado que fiz sobre o assunto para completar meus estudos no Stanford.

Em 1975, quando estudando na biblioteca de Stanford, notei por acaso uma coleção considerável de livros escritos por Pierre Teilhard de Chardin. Nos anos 1965 a 1966, como universitário católico, fiquei muito interessado neste jesuíta silenciado pelo Vaticano. Publiquei uns artigos sobre ele numa revista pequena de Young Christian Students (uma organização da mesma linhagem européia que Juventude Universitária Católica e Ação Popular como discutido por Emmanuel de Kadt em Catholic Radicals in Brazil). Em 1975, não mais me interessou o lado religioso do pensamento de Teilhard, mas já sabia da fala entre cientistas do computador que a noosfera de Teilhard estava possível tecnologicamente (que nos chamamos agora a Internet) e fiquei surpreso achar tantos livros de Teilhard nesta instituição secular. Fiquei ate muito mais surpreso achar um tema central do pensamento de Teilhard que nunca reconheci nos anos sessenta: a energia tangencial (entropia) e a energia radial (entropia negativa). Parei tudo e comecei escrever este ensaio que foi publicado na revista inglesa The Teilhard Review em 1977.

Naquele ensaio, escrevi o seguinte:

"O princípio básico da teoria de informação indica que o mais provável uma mensagem (o sol levantará amanhã'), a menos informação que dá e, versa vice, o mais menos provável uma mensagem ('Haverá um eclipse solar amanhã'), a mais informação que dá. E sabido às vezes como a teoria de surpresa da informação. Porque a teoria de informação media a incerteza na mesma maneira que a física media a entropia, nós podemos reformular o princípio acima nesta maneira: A menos incerteza ou entropia que uma pergunta levanta (‘Algumas rosas são vermelhas? '), a menos incerteza ou entropia que sua resposta reduzirá. Por outro lado, uma pergunta que levanta uma quantidade mais elevada da incerteza ou da entropia (`O que é a escala das cores da rosa de repolho? ') só pode ter uma resposta que reduz mais incerteza ou entropia. De qualquer maneira, a informação adquirida, porque reduz a entropia, pode ser descrita como a entropia negativa."

"...O significado político de promover o provável ou o improvável pode ser determinado reavaliando a distinção clássica entre políticas democráticas e ditatoriais com respeito à discórdia. Um limite de probabilidade claramente separa a expressão livre democrática (liberdade da informação) do controle ditatorial da expressão (supressão da informação). Quando a discórdia é tolerada, as mensagens menos prováveis resultam do que quando a discórdia é suprimida. O debate público desaconselhado numa ditadura conduz às formas geralmente mais prováveis de expressão política do que se pode esperar onde a atividade do governo é sujeita a interrogatório público. Portanto um clima de expressão e de debate livre favorece a aquisição de quantidades mais elevadas da informação pela sociedade em geral. De outro lado, a imposição ditatorial de formas mais prováveis de expressão tem o efeito perigoso de aumentar a incerteza ou a entropia da sociedade. Como Alexander Solzynitsyn advertiu (em ausência) em seu discurso de aceitação do prêmio Nobel em 1970, “a ciência contemporânea sabe que a supressão da informação conduz à entropia e à destruição total”.

No mesmo ensaio, apliquei estas noções ao golpe de 1973 em Chile, como notado na próxima entrada.

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