Sunday, December 16, 2012

Bem-vindos ao Blog Revolução da Complexidade


Tem algo acontecendo aqui.
O que é não é exatamente claro.
     
"For What It’s Worth" de Stephen Stills


Eu googlei "complexity revolution" varias vezes nas últimas semanas. Durante esse período, o número de ocorrências passou de umas 9.000 para 12.500. É evidente que algo está se acontecendo aqui. Outra prova disso é o fato de que a minha primeira escolha para nomear o domínio do blog Google - "ComplexityRevolution"- já está tomada. Então eu inseri um hífen, fazendo o endereço completo aqui http://www.Complexity-Revolution.blogspot.com. (Comprei um domínio personalizado, ComplexityRevolution.org, mas não tive exito até agora em apontar este blog para isso.)
Seja qual for o significado de"complexity revolution", estou, com este blog, saltando dentro do diálogo - e do debate.
"Complexidade" é um grande guarda-chuva. Em vez de tentar definir este termo -- algo que escapa mesmo os principais pensadores no campo [1] – diria simplesmente que a complexidade é uma característica, em algum grau, de todos os fenômenos conhecidos e investigadores científicos estão fazendo progresso em compreender seus padrões subjacentes e muitas vezes surpreendentes. Como cientista político, a minha esperança especial é que tal abordagem para a ciência - tanto apesar e por causa de suas origens físicas - pode ajudar os cientistas sociais, cientistas políticos em particular, a construir reivindicações mais fortes que possam ser de fato reputadas como científicas.
Os cientistas sociais têm sido fortemente divididos sobre usar ou não os conceitos e as metodologias da ciência física. Como Immanuel Wallerstein notou, a ciência social tem sido como "alguém amarrado a dois cavalos galopando em direções opostas" [2]. A capacidade dos físicos newtonianos de pronunciar com precisão matemática leis universais da natureza tem exercido uma considerável inveja entre muito scientistas sociais. Mas essa abordagem tem repelido outros cientistas sociais que se opõem as implicações deterministas de fazer o comportamento humano tão previsível como as marés.
Como partidário do segundo grupo, considero a ciência nascente de complexidade enormemente estimulante. É parte de uma corrente de indeterminismo surgindo das ciências físicas para bem mais de um século - a ascensão do improvável através da evolução biológica, o uso de probabilidade na termodinâmica dos sistemas fechados, o princípio de incerteza na física quântica, e a noção de auto-organização em sistemas termodinâmicos abertos. A física não determinista não só oferece ferramentas que podem ser formados para criticar "a ciência social newtoniana", mas uma visão do mundo material, que pode acomodar o livre arbítrio humano e sua imprevisibilidade intrínseca. Fica assim caracterizado um grupo com o qual os cientistas sociais não só podem, mas precisam estabelecer interlocução. Por que precisam? Porque cada sistema social humano é um sistema físico. Mas nem os cientistas físicos nem os cientistas sociais podem explicar, em seus próprios termos, como isso é assim. Isto constitui uma lacuna na perspectiva científica da realidade. Como Edgar Morin coloca,

“... a ciência natural não tem nenhum meio para conceber-se como realidade social; a ciência antropossocial não tem nenhum meio para conceber-se no seu enraizamento biofísico; a ciência não temos meios para conceber seu papel social e sua natureza in sociedade” [3].

Para preencher esse abismo entre as"duas culturas", precisamos desenvolver concepções fisicamente integradas de sistemas sociais humanos. Isso requer comunicação entre cientistas físicos e sociais. É necessário o desenvolvimento de uma linguagem comum para permitir tal comunicação. Em meados do século XX, a cibernética e a teoria geral de sistemas assumiram este desafio, mas ficaram aquém. A teoria dac omplexidade agora parece prestes a pegar suas bandeiras caídas. Vários ingredientes conceituais para tornar isso possível parecem estar disponíveis, mas o trabalho pesado ainda precisa ser feito.
Minha própria entrada para este diálogo é uma combinação de teoria do poder político e teoria da complexidade, que eu chamo uma teoria da complexidade de poder. Além de uma apresentação que eu dei numa conferência no início deste ano [4], eu não tenho trazido à publico minhas ideias. Este blog é uma forma de pensar em voz alta, idealmente receber feedback e, ao mesmo tempo, desenvolver algo para publicação.
A teoria, em poucas palavras, é assim: A termodinâmica é a ciência central de complexidade. Complexidade desorganizada e complexidade organizada [5] correspondem, respectivamente, a desorganização ou desordem em sistemas termodinâmicos fechados e organização (ou auto-organização) em termodinâmica de sistemas abertos. Podemos identificar complexidade termodinâmica no exercício do poder, quando fazemos a distinção entre"poder sobre" (poder exercido como a escolha de uma pessoa ou grupo imposta em outro) e "poder com" (poder exercido como escolha mútua nãofinalmente imposta nos outros ). Poder exercido sobre os outros tem uma função desorganizadora, que aumenta a complexidade desorganizada em sistemas sociais humanos. Da mesma forma, o poder exercido com os outros tem uma função deauto-organização, que aumenta a complexidade auto-organizada humana.
Neste ponto de vista, não somos apenas os grandes organizadores mas os grandes desorganizadores. Nós somos, como Edgar Morin defende há tempos, não só o Homo Sapiens, mas o Homo Demens. "O reino do Sapiens", escreveu Morin, "corresponde a uma introdução massiva de desordem no mundo" [6]. Quando exercemos o poder de dominar os outros, seja através dos níveis atualmente alarmantes de escravidão [7] ou ditadura ou formas muito mais sutis de opressão e exploração, nos introduzimos a desordem, estamos desorganizando a nós mesmos. Quando nos subjugamos a natureza em vez de fazer "diálogo com a natureza" (como advogado por Ilya Prigogine [8]), estamos desorganizando a nós mesmos. Quando, no entanto, exercemos o poder com os outros e não sobre outros, quando colaboramos com os outros parao benefício da comunidade inteira, quando lidamos com a natureza como um parceiro igual, conseguimos maiores graus de auto-organização. Com tais poderes extraordinários, podemos descrever-nos, para melhor ou pior, como Homo Potens.
São tais comparações entre os reinos físicos e humanos meras metáforas ou elas apontam para a elusiva dimensão física de sistemas políticos humanos? Com base no que eu tenho sido capaz de dizer até agora, é compreensível se você assumir a primeira. Mas, neste blog, vou tentar construir um argumento plausível para o último.
Sei bem que, associando a termodinâmica com sistemas sociais humanos, eu estou partindo do consenso da maioria dos cientistas, sejam elas sociais ou físicas. E, sei que muitos teóricos da complexidade, talvez a maioria, contestaria a noção que a termodinâmica é a ciência central de complexidade. E, assumindo a tarefa de integrar tudo numa visão política de nenhuma maneira simplifica as coisas.
Tudo o que posso dizer neste espaço é que eu estou construindo um mosaico. E as peças do mosaico são empiricamente baseadas em analogias traçadas entre os reinos físicos e políticos. A argumentação vai funcionar ou não sobre a força ou a ressonância destas analogias como um grupo. Se provam ser apenas isso - analogias simples - a teoria pode ser jogada na lata de lixo da especulação científica. Se, em face de testes rigorosos, as analogias têm ressonância, a teoria pode reivindicar uma posição provisória, sempre sujeita, naturalmente, a revisão e testes suplementares. Onde quer que isso possa ir parar, seus comentários e críticas serão muitoapreciados.
(Agradeço muito a ajuda de Ricardo em polir meu português esta vez. Mas d’aqui para frente eu vou depender nos meus próprios recursos linguísticos – querendo dizer Google Translate e minha memória da língua. Sei que será frequentemente desajeitada. Felizmente eu aceitarei recomendações sobre correções.)
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[1] Melanie Mitchell relata como teóricos da complexidade num simpósio do Santa Fe Institute, quando posaram coma questão de definir "complexidade", não foram capazes de chegar a qualquer consenso (Kindle 1620). Ela sugere que, mesmo que uma única ciência ou teoria da complexidade ainda não existe, pode ser que estar em um estágio de formação - "... uma característica essencial da formação de uma nova ciência é uma luta para definir seus termos centrais" (Kindle 334 ). Complexity: a Guided Tour, 2009, New York: OxfordUniversity Press.
[2] The Uncertainties of Knowledge, 2004:19. Philadelphia: Temple University Press.
[3] Ciência com Consciência (2001:20,Rio de Janeiro: Editora Bertrand Brasil), uma traducao de Science avec conscience. Infelizmente, o trabalho pioneiro de Edgar Morin na teoria crítica da complexidade é pouco disponível em inglês. Vou me referir a suas idéias regularmente neste blog.
[4] " A Complexity Theory of Politics ", 20th Winter Chaos Theory Conference, Montpelier,Vermont, March 24, 2012.
[5] O ensaio seminal de Warren Weaver "Ciência e Complexidade" (American Scientist, n º 36, 1948: 536-544) distinguiu entre complexidade organizada e desorganizada. Ele não fez uma associação explícita entre complexidade desorganizada e a termodinâmica mas implicou tanto quando ele relatou o estudo da complexidade desorganizada com Willard Gibbs e mecânica estatística.
[6] Traduzido de Le paradigme perdu: la nature humaine (1973:122 Paris:Éditions de Seuil).
[7] Atualmente existem até 100 mil escravos nos Estados Unidos e possivelmente 27 milhões em todo o mundo (editorial do New York Times, “Slavery in the Modern Age”, 1 de julho de 2011,http://www.nytimes.com/2011/07/02/opinion/02sat3.html).
[8] "A ciência é um diálogo entre o homem e a natureza ..." Ilya Prigogine (The End of Certainty: Time, Chaos and the New Laws of Nature,1997:153, New York: The Free Press). Ele elabora sobre o tema no capítulo 7, "Nosso Diálogo com a Natureza "(153-162).



Monday, August 11, 2008

6) O que tenho publicado sobre Brasil

“E preciso denunciar.” Foi o aviso que recebi numa visita com Dom Helder Camara na sua residência em Recife em Dezembro de 1970. Falávamos sobre o estado da repressão política e o regime da tortura. Tenho pensado muitas vezes neste aviso e tenho pensado também que não tenho conseguido fazer tudo que eu podia e devia ter feito. Não foi por falta de tentar. Duas tentativas de escrever livros sobre Brasil não deram certo, uma sobre a seca cujo começo testemunhei vivendo no sertão baiano em 1970, a outra uma tentativa analisar a ditadura brasileira usando uma “teoria política de informação”, uma tarefa que me ocupou muito nos fins dos anos setenta.

O que consegui fazer foram cinco artigos jornalísticos:

  • Entrevistas com flagelados baianos da seca de 1970 publicado na Tribuna da Bahia. (Quando eu achar a minha copia, botaria uma copia PDF aqui).
  • Uma entrevista com um dos flagelados famintos que atacaram trens para pegar comida em Ceara em 1970 (copia PDF aqui). Sendo que a entrevista não refletiu bem nos militares e pensei em voltar ao pais, usei o pseudônimo “Tony Counselor” (a tradução em portuguese e “Antônio Conselheiro”). Como eu (muito dificilmente) consegui esta entrevista e um conto em se que apresentarei aqui mais tarde.
  • Uma entrevista com Lula que apareceu no National Catholic Repórter em February 26, 1982 (copia PDF aqui ).
  • Um artigo sobre a situação no Brasil durante minha ultima visita em 1983 "IMF Austerity Brews Discontent in Brazil" que apareceu em In These Times (copia PDF aqui).
  • Uma reportagem sobre o financiamento pela CIA da Cruzada do Rosário de Padre Patrick Peyton nos anos 1962 a 1964 no Brasil que apareceu em Caros Amigos em 2007 (copia PDF aqui).

    E possível agora fazer respostas neste blogue sem deixar a historia de sua vida. Fui avisado (agradeço Ricardo) que o programa do blogue estava exigindo registro para poder responder. Agora tirei esta restrição (o default quando crie o blogue).

Tuesday, July 29, 2008

5) Uma Seqüência

Por falta dum mercado forte para pensadores utópicos (e muitas outras razoes) parei de seguir esta linha de pensamento nos 1980s. Mas ultimamente o meu interesse seguir estas idéias renasceu, não por coincidência ao mesmo tempo em que tenho reconhecido que morar no Brasil durante os anos de chumbo foi provavelmente a experiência mais importante de minha vida.

Aqui e uma sumaria rápida da direção estou tomando atualmente em escrever uma seqüência (sequel) ao ensaio de 1977:

Na física, o conceito da entropia tomou parte na revolução contra o mundo mecanistico baseado na certeza absoluta de Newton e em favor dum mundo baseado na interdependência e uma incerteza sem fim. Em construir as metáforas duma teoria de informação política, o anterior complementa o autoritarismo e o ultimo complementa o processo de democratização. Podemos proceder a três níveis: a consciência, a organização e a moralidade. A cada nível, podemos distinguir entre tendências absolutas (autoritárias) e tendências relativas (democráticas).

  • Da entropia (incerteza) e entropia negativa (a redução de incerteza, ou informação) de Shannon, podemos criar metáforas da ignorância política e consciência política. Os autoritários (os donos da verdade) vivem no mundo Newtoniano de certeza absoluta. A democratização procede na base de incerteza infinita e a necessidade de proteger os processos que iluminam a incerteza, criando a possibilidade de redução de incerteza e o crescimento geral da consciência política.
  • Da entropia da física, podemos criar metáforas de desorganização política e organização política. A obsessão autoritária com a ordem absoluta e um caos criado pelos subversivos do mundo reflete o mundo Newtoniano, a chamado “clockwork universe” que funciona segundo regras absolutas que não podem ser disputadas. Miguel Arraes avançou uma perspectiva relativa de ordem referindo ao “conceito de ordem e liberdade desviando da tendência costumaria ver los como conflitantes” (pela referencia, veja pagina 30 neste papel meu não publicado).
  • Norbert Weiner observou que o mau na teologia de Santo Augustino e análogo a entropia. O mau relativo e a desorganização, uma falta de organização, um coisa impessoal. Ao contrario, a perspectiva Maniqueina proclama a existência de umas pessoas que são incorporações de mau e merecem oposição violenta. A ferocidade moral de autoritarismo vem da mesma fonte. Da perspectiva de democratização o mau e um problema estrutural, não pessoal. O conceito de “violência estrutural” de Galtung complementa esta perspectiva. A lei democrática cria uma moralidade publica, nunca absoluta, sempre sujeita a critica e revisão.

Na visita que vou fazer a Brasil entre o 6 e 18 de agosto, vou matar as saudades do Brasil. Tambem gostaria comunicar neste assunto. O meu email e mikemc@brooklyn.cuny.edu.

4) A Revolução de Informação

No ensaio de 1977, depois falar sobre o golpe em Chile, perguntei:

“Como então e possível avançar no sentido oposto e provavelmente estabilizando de promover o improvável através da liberdade de informação? Ou, supondo a correlação entre a liberdade da informação e aumentando a participação, como podia uma expansão constante de participação no processo político ser conseguido?”

Imaginei uma transformação democrática global baseada numa democratização de base. Num espírito utópico e claramente especulativo, eu disse:

Relativa à revolução de informação, todas as nações atuais do mundo são sociedades pré-revolucionários. Nunca antes um movimento político ou econômico tem criado pelo público um poder tão extensivo quanto à capacidade de monitorar e participar em todas as decisões que a afetam. A revolução de informação permitiria o público observar e tomar parte ao vivo em decisões locais, regionais e globais. Resultaria na dissolução gradual das hierarquias internacionais e intranacionais que agora fazem fluxos de informação decisiva a propriedade exclusiva das elites políticos mais que à propriedade do público geral. O capitalismo de estado de sociedades marxistas-leninistas e o capitalismo explícito das economias de mercado levariam a descentralização do estado e as formas da democracia política, econômica e industrial menos. Envolveria não um movimento armado, mas um movimento de lei para ilegalizar toda decisão confidencial que tem um impacto público.

A revolução de informação é o processo em que o sistema de informação agora não organizado conscientemente -- que nós chamamos agora a sociedade humana -- se organiza conscientemente como um sistema de informação. Esta revolução não pode suceder sem contrabalançar as formas improváveis de expressão resultando da liberdade da informação com alguns meios públicos de lidar o improvável. O melhor meio será um publico cada vez mais informado e politicamente ativo. Enquanto o público global se torna cada vez mais consciente e ativo em negócios decisivos, a consciência humana pode tomar uma forma de em expansão constante ao nível planetário - muito como o Teilhard imaginou a planetização da noosfera.


Como um campeão do improvável, Teilhard se protege contra caracterizações irrefletidas (como “profundamente reacionário” por Lewis Mumford) e emerge-se um advogado fiel das liberdades democráticas, especialmente a expressão livre. Pela uma pessoa que, no lado da sua mãe, é um descendente de Voltaire e inteiramente apropriado. “Não apoio de que você diz” exclamou seu antepassado venerável “mas defenderei à morte o seu direito a dizer-lo.” Interpretado na luz da teoria de informação, a visão de Teilhard traz a evidência científica ao argumento que tolerância como a de Voltaire é um negocio de vida e morte. Na tentativa criar um mundo onde a gente possam se expressar livremente, a sobrevivência mesma da humanidade está no jogo. Em sua esperança excepcional que este esforço sucede, Teilhard chamou a nossa atenção “uma obrigação nova e nobre fazer todas as forças da terra avançar o progresso do improvável”. Parece uma aposta segura que os maiores avanços neste sentido estarão feitos pela revolução de informação.

Mais de trinta anos mais tarde, continuo crer na importância imaginar e especular sobre a democracia global. Mas o meu interesse no momento e elaborar as metáforas políticos baseados na teoria da informação, mexendo a filosofia da ciência mais recente e a filosofia política. O resultado, eu creio, e uma teoria da informação política que pode ajudar iluminar os perigos de desumanização e as oportunidades de humanização nos enfrentam atualmente.

3) A Política Entrópica da Ditadura Chilena

Falando durante a visita de General Médici a Casa Branca em dezembro de 1971, Richard Nixon disse “como vai o Brasil, vai o resto do continente de America Latina”. Nunca podia ser mais claro que a política autoritária da política exterior dos EUA (que complementou o autoritarismo dentro do Brasil) ia ser exportada aos outros países da America Latina. Mesmo que falei somente de Chile e não de Brasil no ensaio Teilhard and the Information Revolution, para quem soube as duas historias não foi necessário explicar.

Em termos da teoria de informação política que apresento aqui, os dois países atravessaram uma fronteira da política do improvável a uma política do provável (mesmo que tendia acontecer no Brasil numa moção lenta entre 1964 a 1968 da ditablanda a ditadura mesma -- com a exceção do nordeste que sofreu do começo o regime de tortura como bem documentado por Marcio Moreira Alves).

Fiz a descrição seguinte no ensaio de 1977:

“Os eventos recentes no Chile fornecem um exemplo trágico dos problemas que enfrentam movimentos para o aumento de participação política dentro e pelo terceiro mundo. Dramatizam também a política da entropia numa escala pequena. Com o estabelecimento em setembro de 1973 dum reino de terror militar, a sociedade chileno cruzou a fronteira da probabilidade do improvável ao provável. Empregando tecnologias altamente avançadas do computador e de comunicação, a ditadura militar do Chile tem criado controles de informação que colocam o povo chileno numa marcha forçada para formas de comunicação cada vez mais prováveis e entrópicas. O sentido deste movimento militar está claro:

  • Antes do golpe, a expressão livre defendida constitucionalmente protegeu formas improváveis de discussão política. Desde então, a apreensão, tortura e execução sumárias dos dissidentes tem feito a cena política tão previsível quanto a Praça Vermelha de Moscou.
  • Antes do golpe, um sistema multipartidário gerou conflitos improváveis. Desde o golpe, a probabilidade foi reforçada pela centralização absoluta do poder nas forças armadas. O Congresso e todos os partidos políticos dissidentes são dissolvidos. Governadores e prefeitos devidamente eleitos foram substituídos com as sátrapas militares.
  • Antes, o status quo econômico foi desafiado pelas ações improváveis dos trabalhadores livre para expressar-se. Desde o golpe, a ditadura tem tentado criar uma força trabalhadora tão previsível quanto uma colônia de formigas. As greves são proibidas e os poderes arbitrários das polícias são usados contra líderes sindicais que ousam exigir atenção às queixas dos trabalhadores.
  • Antes, o ativismo político legalmente protegido causou florescer o improvável nos campus universitário. Desde o golpe, as universidades foram transformadas em fábricas da informação presididos pelos militares cujas primeiras instruções depois do golpe foram tirar muitos milhares de estudantes e de professores “subversivos”.
  • Antes, as formas de expressão diversas e não censuradas através de arte, livros e os meios de comunicação de massa resultaram na propagação imprevisível das idéias. Desde então, o fluxo das idéias se tornou sujeito ao gosto altamente previsível dos ditadores militares. Imediatamente depois do golpe, jornais e editoras dissidentes foram fechados. Livros apreendidos em invasões militares de livrarias, bibliotecas e residências privadas foram queimados no público. Muita gente destruiu seus próprios livros com medo de ser achado com eles. Agora jornais, livros, revistas, tevê, rádio, pecas de teatro, filmes, canções e mesmo a poesia são sujeitos a um ou outro tipo de censura.

“A descrição de Teilhard de entropia como uma ‘situação em que os poderes de ação são neutralizados e anulados num clima morna universal’ é uma descrição exata do clima política no Chile hoje e em todas as outras nações onde o desacordo é sistematicamente suprimido. Como os tiranos têm feito pelos séculos, os ditadores justificam seu papel como os protetores da probabilidade como o meio defender a ‘estabilidade’ política. Teilhard viu a falha trágica neste tipo de raciocínio quando escreveu ‘talvez a estabilidade verdadeira, a consistência verdadeira do universo deve ser procurado no sentido do aumento da improbabilidade’. Os movimentos ditatoriais em favor do provável são, neste sentido, o epítome da instabilidade política.”

Na próxima entrada, apresento porções do ensaio sobre a política do improvável.

Friday, July 25, 2008

2) A Procura duma Teoria

Em 1971, bem antes de voltar aos EUA depois de três anos no Brasil, fiquei pensando que foi possível analisar toda a repressão política da ditadura militar como a supressão de informação. Ao mesmo tempo, conclui que a liberdade de informação podia servir no lado da liberação política, quer dizer, que a informação podia ser um conceito revolucionário. Logo depois de ficar morando em New York nos fins de 1971, descobri a existência da teoria de informação de Claude Shannon e seu conceito de informação como entropia negativa. Contemplei as possibilidades duma teoria política usando este conceito e comecei usar tecnologias de informação com amigos da esquerda (Sony Porta Pak vídeo e televisão de cabo). (Ao mesmo período, fiquei conhecendo uns brasileiros na comunidade em exílio).

Entrei no programa mestral de estudos latino-americanos a Stanford University em 1974 com a idéia de escrever um livro sobre a ditadura brasileira aplicando a teoria da informação. Nunca consegui completar o livro, mas aqui e um papel não publicado que fiz sobre o assunto para completar meus estudos no Stanford.

Em 1975, quando estudando na biblioteca de Stanford, notei por acaso uma coleção considerável de livros escritos por Pierre Teilhard de Chardin. Nos anos 1965 a 1966, como universitário católico, fiquei muito interessado neste jesuíta silenciado pelo Vaticano. Publiquei uns artigos sobre ele numa revista pequena de Young Christian Students (uma organização da mesma linhagem européia que Juventude Universitária Católica e Ação Popular como discutido por Emmanuel de Kadt em Catholic Radicals in Brazil). Em 1975, não mais me interessou o lado religioso do pensamento de Teilhard, mas já sabia da fala entre cientistas do computador que a noosfera de Teilhard estava possível tecnologicamente (que nos chamamos agora a Internet) e fiquei surpreso achar tantos livros de Teilhard nesta instituição secular. Fiquei ate muito mais surpreso achar um tema central do pensamento de Teilhard que nunca reconheci nos anos sessenta: a energia tangencial (entropia) e a energia radial (entropia negativa). Parei tudo e comecei escrever este ensaio que foi publicado na revista inglesa The Teilhard Review em 1977.

Naquele ensaio, escrevi o seguinte:

"O princípio básico da teoria de informação indica que o mais provável uma mensagem (o sol levantará amanhã'), a menos informação que dá e, versa vice, o mais menos provável uma mensagem ('Haverá um eclipse solar amanhã'), a mais informação que dá. E sabido às vezes como a teoria de surpresa da informação. Porque a teoria de informação media a incerteza na mesma maneira que a física media a entropia, nós podemos reformular o princípio acima nesta maneira: A menos incerteza ou entropia que uma pergunta levanta (‘Algumas rosas são vermelhas? '), a menos incerteza ou entropia que sua resposta reduzirá. Por outro lado, uma pergunta que levanta uma quantidade mais elevada da incerteza ou da entropia (`O que é a escala das cores da rosa de repolho? ') só pode ter uma resposta que reduz mais incerteza ou entropia. De qualquer maneira, a informação adquirida, porque reduz a entropia, pode ser descrita como a entropia negativa."

"...O significado político de promover o provável ou o improvável pode ser determinado reavaliando a distinção clássica entre políticas democráticas e ditatoriais com respeito à discórdia. Um limite de probabilidade claramente separa a expressão livre democrática (liberdade da informação) do controle ditatorial da expressão (supressão da informação). Quando a discórdia é tolerada, as mensagens menos prováveis resultam do que quando a discórdia é suprimida. O debate público desaconselhado numa ditadura conduz às formas geralmente mais prováveis de expressão política do que se pode esperar onde a atividade do governo é sujeita a interrogatório público. Portanto um clima de expressão e de debate livre favorece a aquisição de quantidades mais elevadas da informação pela sociedade em geral. De outro lado, a imposição ditatorial de formas mais prováveis de expressão tem o efeito perigoso de aumentar a incerteza ou a entropia da sociedade. Como Alexander Solzynitsyn advertiu (em ausência) em seu discurso de aceitação do prêmio Nobel em 1970, “a ciência contemporânea sabe que a supressão da informação conduz à entropia e à destruição total”.

No mesmo ensaio, apliquei estas noções ao golpe de 1973 em Chile, como notado na próxima entrada.

Sunday, July 20, 2008

1) Poesia, Política ou Ambos?

O papel deste blog e iniciar um dialogo publico sobre a possibilidade de criar um instrumento analítico que vou chamar aqui “a teoria da informação política” (refletindo a teoria da informação de Claude Shannon como a sua base de inspiração). Em resumo brevíssimo, eu discuto a possibilidade discriminar entre duas tendências básicas políticas: uma política autoritária (uma política da entropia) e um processo de democratização (uma política de entropia negativa).

Ao primeiro olhado, uma classificação tão simples pode aparecer simplistica, ou mesma uma reformulação do paradigma da Guerra Fria entre democracia e ditadura. Porem creio que o conceito de democratização representa um desafio as sistemas exigentes. Mesmo que temos aprendido muito sobre a prática da regra da lei democrática nos dois séculos da democracia liberal, tendências autoritárias e desigualdades enormes internacionais e intranacionais continuam ser obstáculos a democracia. Usando a democracia global como um padrão, claramente ficamos muito longe da realização da democracia no mundo atual. Relativa a esta meta, vivemos ainda numa civilização pre-democratica. A teoria que apresento não e uma solução, mas ilumina direções muito gerais para frente e para traz. Ajuda pensar sobre principais de navegação.

Escrevo este blog em português porque a fonte da minha inspiração em seguir esta linha de pensamento foi morar no Brasil durante três dos piores anos de chumbo (1968 a 1971. Estive la dois anos com o Peace Corps e mais um ano ensinando inglês e procurando trabalho jornalistico.) Também, vou visitar o Rio logo, entre o 6 e 18 de agosto. Este blog facilita partilhar estas idéias tanto com amigos velhos que vou encontrar quanto outra pessoa qualquer que tem interesse neste assunto.

Em 1977, publiquei as idéias seminais duma teoria da informação política num ensaio chamado Teilhard and the Information Revolution. Por varias razoes, parei seguir esta linha de pensamento. Mas ultimamente recomecei examinar o significado político da entropia e descobri vários desenvolvimentos intelectuais (as ideias de Ilya Prigogine, a teoria de caos, a ciência de complexidade etc.) que criam uma clima intelectual mais aberta ao este tipo de pensamento. Uso conceitos políticos baseado na entropia e entropia negativa como metáforas, metáforas pela consciência política, pela organização política e pela moralidade política. No fim esta teoria construída de metáforas pode ser nada mais que poesia. Mas se ela puder iluminar o mundo político de observação concreta numa maneira consistente e útil, teremos que concluir os paralelos entre a ciência física e a ciência política não estão uma mera coincidência.

Pretendo fazer uma versão paralela do blog em inglês mais tarde. Sei que minha gramática e, depois de tantos anos, meu vocabulário faltam muito. O computador me ajuda muito neste respeito. Felizmente, aceitarei correções a minha gramática a mikemc@brooklyn.cuny.edu. Vamo’ la...